DOS ESPÍRITOS TEIMOSOS

Dois dias depois da morte
inda desanuviado
viu-se preto, viu-se branco
não viu-se
viu-se duplamente
e esquecia toda vez do que via
viu-se de outro jeito
viu-se com outro corpo
e a vileza daquele instante
absorto
não lhe trouxe o conforto que esperava
Já no terceiro dia
não se via mais
também não quis nem saber
já bastava de confusão!
já morrera mesmo
para que se abater?
para que algo pior?
O pior sono já tinha passado
e o passado parecia mais claro
e o presente tinha sido apagado
assim como as vestimentas
de seu extenso guarda-roupas
Agora estava nu
esquecido
largado
ao recôndito mar
que conduz ao nada
e sua barca, o corpo
fez-o descer e encarar a nado
a longa travessia, que já se vencia
ainda bem que sem o corpo
fica tudo mais leve e flutua
e o destino não importa
ficaram para trás as escolhas
e que seguisse agora
para sempre
no instante-último
jazendo
e mantendo a teimosia
de voltar
sem entender jamais!

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