A criança que fui em algum momento

Quando o abri os meus olhos hoje cedo
Vi na mente as cenas do passado
A criança que fui e ainda guardo
A criança feliz livre de medo
A criança sorrindo sem segredo
A criança tão leve quanto o vento
A criança que vi em pensamento
A ilusão mais feliz que tenho tido
É tão bom se sentir como despido
A criança que fui em algum momento

Na infância reside a inocência
Descoberta diária deste mundo
Tudo é novo, e é belo e é profundo
Dispensamos razão e coerência
Só sentimos o gosto da existência
Em total e espontâneo sortimento
Como tal mesmo hoje ainda tento
Mas é como um mundo já perdido
É tão bom se sentir como despido
A criança que fui em algum momento

Eu bem sei que a infância de verdade
Não é céu que se vive sem ter dor
Mas me assumo que sou um sonhador
E o que lembro depende da vontade
A lembrança é do sonho a metade
Eu misturo o que quero e o que tento
É sentir mais algum contentamento
Sem a dor com que às vezes sou vestido
É tão bom se sentir como despido
A criança que fui em algum momento

E me entrego, portanto, à fantasia
Não por falta ou desvio de juízo
É que quero dar vez a um sorriso
Que imprima leveza ao meu dia
Não precisa motivo na alegria
Só precisa dar vez ao sentimento
Essa vida é bem mais que sofrimento
É um quadro de cor todo tingido
É tão bom se sentir como despido
A criança que fui em algum momento.

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