TENTAR SER PAI
Quando você vê a face de um pedaço seu, um filho, a admiração não cabe em mil crônicas. Já vi dizerem que a mãe se sente como tal a partir do momento em que sabe estar grávida, mas o homem só vai ter noção da grandiosidade desse sentimento ao encarar aquele fruto de amor, milagre da vida, chorando, pequeno e delicado, ainda vermelho pelo esforço da nascença. Nesse dia, em que o vi, e de lá até hoje, a vida não foi a mesma, nem será. A existência é mistério indescritível, revolto de mistérios, que qualquer filosofia possa desvendar, nem a pobreza de fundamentalismos, de falsas crenças e falsas verdades. E, enquanto encaro a chegada de mais um navegante nessa existência, outros tantos se vão, e no ciclo da vida em que a renovação é lei suprema, a linha tênue que nos separa mostra-se, claramente, no parto, no choro, na dor e no alívio. O tempo escorre, conhecemos cada vez mais gentes, mais situações, e o aprendizado duro e meandrado nos permite continuar aqui mais um tempo, até que precisemos dar nosso salto qualitativo, revolucionário, rumo ao negror do desconhecido, que me parece bem mais apraz ao olhar a inocência e paz de quem dele acaba de chegar, e ao sentir que, duma hora para a outra, bagunçando-me por inteiro, tal como inda permaneço, ganhei o dom de tentar ser pai.
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