CIDADE DO INTERIOR
I.
Josefina tece suas prosas
Com a mão fina na palha.
Tece também o chapéu,
Língua ferina, navalha.
Josefina tece suas prosas
Com a mão fina na palha.
Tece também o chapéu,
Língua ferina, navalha.
II.
Joaquim, à bodega, bebe.
Dedica o gole ao santo,
Para quem tem devoção.
Esquece Maria e o pranto.
III.
Velha Isabel e a bengala,
Manca, gorda, põe a mão
Aos ouvidos e se informa
Das conversas do povão.
IV.
Conversa se espalha ligeiro,
Noticiário de esquina corre,
E faz carnaval a mangoça,
Do cara caído do porre.
V.
Manuel por nada troca
Seu cigarro de pé duro.
Pose de macho, tosse.
À igreja, sabe o futuro.
VI.
Ana, beata, reza o terço.
Inseparável pano à testa.
Caridosa, zela a alheia vida,
Pára a reza ao ver Modesta.
VII.
A formosa Modesta desfila.
Passa e atenta a caboclada,
Impressionam as suas ancas
E a face bem corada.
VIII.
João, o pobre, nunca casou.
Não teve quem o quisesse.
Fede a cachaça e a fumo;
Em seu desaprumo padece.
IX.
Vendo João, Irmão Ricardo,
Faz que não vê, e desvia,
Converteu-se em Brasília
Ele, Carmem e Sofia.
X.
A cunhã da Rua de Baixo,
Leva a fila de meninos,
Todos de pais diversos.
Crescem ouvindo vis ferinos.
XI.
Nhã-Nhã só quer os livros
Espreita o mundo nas folhas.
Mal sai ela à calçada,
Teme tanto suas escolhas.
XII.
Já Félix é diferente,
Pelo menos tenta ser.
Foi ao Rio, voltou chique.
Em pouco volta ao sofrer.
XIII.
Farofa, a cadela, dorme,
À capela bem calada.
Ó, maior fiel não o há,
Sincera e reservada.
XIV.
Maicon quebrou a perna
Nas peladas vespertinas
Seria um novo Ronaldo,
No que conta às meninas.
XV.
Mariano mente um bocado.
Peixe de um metro, jura,
Achou no açude e deixou,
Mui longe, mui tortura.
XVI.
Lenita, a doente, lamenta.
Rabugenta, bem que queria,
Todos doentes quais ela,
Deus, à hora, não havia.
XVII.
Onira, com suas trouxas,
Louca, sempre de mudança,
Pronta ao fim dos tempos,
Pra encerrar a sua andança.
XVIII.
Espreguiça-se todo Jânio.
Falador, o homem sosneiro.
Se pensa em ir trabalhar,
Pronto, dói o corpo inteiro.
XIX
No bar se gaba Jean.
Todo valente, o mulato,
Diz ele, enfrenta onça,
Cobra e cabra gaiato.
XX.
Também no bar, Israel,
Torto, bem aparentado,
Com seu casaco molambo,
Dança, o chão é o tablado.
XXI.
Zezim, da Pedra Lascada,
Ávido que nem gavião,
Vereador do discurso alto.
Não se entende um tostão.
XXII.
Eu, forasteiro, me esqueço.
Na estranheza me envolvo,
Com as doidices da cidade,
Dum nem tão parado povo.
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