AQUILO NA CHUVA
Numa chuva torrencial,
Esqueci que me molhava,
Perdido, olhando atento
Um menino que estava
Deitadinho ao relento,
Tremendo-se por inteiro.
Por entre guarda-chuvas,
Caminhei ao seu rumo
Pra perguntar o motivo
Daquele tal desarrumo.
Percebia que se tremia;
Era criatura esquiva...
Aproximei-me mais...
Perguntei-lhe o seu nome.
Não mostrou lá vontade,
Sendo eu estranho home,
De me responder.
Disse: “Não se preocupe!
Só quero lhe ajudar!
Dê-me cá sua mão,
Para ver como está!”
Entristeceu-me perceber...
As pontas dos finos dedos
Estavam meio queimadas.
O que usara tal menino,
Solto naquelas calçadas...?
Temi, hesitei em ajudar.
Larguei-o lá como estava.
Pensei: "Lá correrei risco,
De ficar com tal criatura!"
...Hoje, passado tempo.
Resta-me a amargura,
De ter “daquilo” fugido...
(Pintura de Marília Chartune)
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