LAMENTAÇÕES AO POENTE...
Foi naquelas mangas de cerca, onde hoje vejo ao entardecer o aboiar de vacas magras, em meio ao amarelo ouro da relva desidratada, que criei mundos vãos, tendo por fundo o vermelhar do sol poente. Cheguei mesmo a andar a toa inúmeras vezes por ali, observando tudo minuciosamente, desde a mais inútil pedra até a mais glamourosa serpente coral (um glamour perigoso, por sinal). Lá poderia criar de um tudo, longe do olhar de qualquer outrem; imaginar-me-ia rei e proferiria longos discursos aos meus súditos; seria soldado consagrado de muitas guerras; seria o prisioneiro fugitivo, o caçador de dragões, o detetive... Não me haveriam limites.
Posteriormente, lá seria também o espaço, à sombra da velha mangueira do baixio de adiante, para encontrar-me com Maria, sem que seus pais “cuidadosos” soubessem. Lá nos confidenciaríamos, daríamos os primeiros beijos, nos entreolharíamos; éramos livres, duas crianças...
Cresci e vivi. O tempo me tirou Maria. O tempo me tirou de mim... E também perdi o tempo. Pra mim, aquela manga de cerca traz mais é saudades, que me proporcionam o infindo lamentar. A criança foi-se; os pais de Maria a levaram; e eu levei-me à rotina de uma vida limitada a uma profissão citadina e ao que os outros esperam de mim. Perdi-me; não sou mais o ilimitado de outrora; e a solidão não mais ergue sequer algo, só corrói.
Posteriormente, lá seria também o espaço, à sombra da velha mangueira do baixio de adiante, para encontrar-me com Maria, sem que seus pais “cuidadosos” soubessem. Lá nos confidenciaríamos, daríamos os primeiros beijos, nos entreolharíamos; éramos livres, duas crianças...
Cresci e vivi. O tempo me tirou Maria. O tempo me tirou de mim... E também perdi o tempo. Pra mim, aquela manga de cerca traz mais é saudades, que me proporcionam o infindo lamentar. A criança foi-se; os pais de Maria a levaram; e eu levei-me à rotina de uma vida limitada a uma profissão citadina e ao que os outros esperam de mim. Perdi-me; não sou mais o ilimitado de outrora; e a solidão não mais ergue sequer algo, só corrói.
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