MÁ CIDADE SEM PASSARINHOS

O pássaro que cantava na varanda lá de casa sumiu. Não sei bem o motivo, mas na manhã de ontem, à cama, fiquei esperando sua toada de rotina, e não veio. Juquinha, meu menino, sentiu também a falta: - Papai! Cadê a “passalinho” que acordava a gente? Sem resposta, falei: - Não sei, meu filho; talvez amanhã aquela sabiá volte.

Não voltou. Esperamos, ansiosos, aquele toque de vida em meio ao morto ar da cidade. Era um detalhe tão pequeno... Pequeno sim, porém significante. Daqueles dias em diante, continuaríamos a aguardar, e em nossas conversas fortuitas sempre ficávamos pensando o que teria findado aquele bichinho; talvez um gato, ou ainda a idade, ou mesmo a poluição... O pior é que ele se findou e não veio outro em seu lugar. Dava aperto no peito ao lembrar a ausência. Houvera se tornado um membro discreto da família; e o melhor: espontâneo, sem gaiola.

A gente pensa que não dói, mas há besteiras cotidianas que só o coração sabe sentir a falta. E o Juquinha que o diga... Má cidade sem passarinhos...

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