AINDA RESTAM MARCAS DE OUTRORA...
Uma gota de saliva jogada ao chão de barro batido não custa secar; era esse o tempo que tinha para cumprir qualquer ordem expressa da mãe. Com uma ninhada de mais de dez filhos, não restava lá espaço para muita ternura. Precisava-se correr da miséria, da fome...
Nunca ouvi um de meus pais chamar-me de “meu filho”; antes, conduziam-nos cada um simplesmente por “meninos”: “Anda cá, menino! Bora cuidar da vida!”. Ai de nós se teimássemos! Não haveria dó em meio ao aperreio... De liga, de corda, de cipó... Eram variadas as ferramentas disciplinadoras utilizadas; o critério de seleção era a proximidade no instante e o grau da traquinagem. O peso da mão variava de filho pra filho... Não sabia se o que sentia era respeito, efetivamente, ou tão somente medo. Só sabia que não convinha chorar, muito menos teimar ou desafiar.
Nunca vi meu pai chorar. Houvera se enrijecido com a peleja. Aquilo que sofríamos em suas mãos ainda era menor do que a dose que ele levara em seu tempo; pelo menos era isso que dizia para nos “consolar”... Seguiu com uma tradição. E mais, por vezes, parecia que as agressões (tidas como normais) surgiam como uma forma de descontar a dor do cansaço...
Ainda guardo mágoa... Já crescido, não posso afirmar desgostá-los, até porque entendo o que sofriam, mas não me esqueço das feridas que entranharam na minha carne, das pisas exageradas, das injustiças, do desamor... Não quis eu fazer o mesmo com meus filhos, repassar uma doença, remanescente de tempos de desespero. Entristeço-me ao saber, entretanto, que alguns de meus irmãos – a Josefa, a Matilde e o Caio, sobremaneira – não tomaram a mesma decisão. Parece que com alguns, a maioria, se não se dá amor, não há de onde tirá-lo, e perpetuam-se o ódio e a vingança, escondidos em gestos “simples”...
Nunca ouvi um de meus pais chamar-me de “meu filho”; antes, conduziam-nos cada um simplesmente por “meninos”: “Anda cá, menino! Bora cuidar da vida!”. Ai de nós se teimássemos! Não haveria dó em meio ao aperreio... De liga, de corda, de cipó... Eram variadas as ferramentas disciplinadoras utilizadas; o critério de seleção era a proximidade no instante e o grau da traquinagem. O peso da mão variava de filho pra filho... Não sabia se o que sentia era respeito, efetivamente, ou tão somente medo. Só sabia que não convinha chorar, muito menos teimar ou desafiar.
Nunca vi meu pai chorar. Houvera se enrijecido com a peleja. Aquilo que sofríamos em suas mãos ainda era menor do que a dose que ele levara em seu tempo; pelo menos era isso que dizia para nos “consolar”... Seguiu com uma tradição. E mais, por vezes, parecia que as agressões (tidas como normais) surgiam como uma forma de descontar a dor do cansaço...
Ainda guardo mágoa... Já crescido, não posso afirmar desgostá-los, até porque entendo o que sofriam, mas não me esqueço das feridas que entranharam na minha carne, das pisas exageradas, das injustiças, do desamor... Não quis eu fazer o mesmo com meus filhos, repassar uma doença, remanescente de tempos de desespero. Entristeço-me ao saber, entretanto, que alguns de meus irmãos – a Josefa, a Matilde e o Caio, sobremaneira – não tomaram a mesma decisão. Parece que com alguns, a maioria, se não se dá amor, não há de onde tirá-lo, e perpetuam-se o ódio e a vingança, escondidos em gestos “simples”...
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