CAP 1. NAS CALÇADAS DA LIBERDADE
Estou a produzir, nos momentos de ócio, pequenas histórias; algumas delas sem compromisso algum de caráter político, ou qualquer outro. São somente estórias que me ocorrem livremente.Uma delas que me acometeram, taciturno, é esta iniciante de Rodolfo, um sujeito quarentão que decide viver novas experiências que em sua juventude não ousara. Peço perdão pelo besteirol. É com as besteiras que a gente pega prática.
Capítulo 01
Rodolfo era um cara simplório, daqueles que criam projetos a partir das expectativas alheias, sendo, portanto, constantemente fadado ao fracasso. Sua vida lhe desagradava, sempre alguém parecia mais feliz; cada dia descobria, ao ver-se no espelho matutinamente, que algo mais estava errado: o jeito como se vestia, andava, falava... enfim, como era. Era um “sempre fracassado”. [Um adjetivo extremamente cruel!]
- Mãe! Meu café já está colocado? – Aos quarenta, ainda dependia da mãe para ter o café preparado bem cedo.
- Quase...
- Algo me preocupa.
- O que?
- Sei que nunca falei sobre isso, ainda mais a esta hora da manhã, mas há algo que me incomodou durante toda a noite... E acho que já não é de agora. Sinto-me um fracassado, a esta idade ainda dependendo da senhora.
- Não se sinta assim. Você não depende de mim.
- É claro que dependo. Sinto-me meio que desprotegido longe de seus cuidados, isso desde que papai morreu [quando adolescente]. Talvez por isso nunca tenha me aventurado a viver independente. Tenho medo de me relacionar com os outros.
- Que nada! Você tem muitos amigos! O Ricardo e o Bolão do trabalho, por exemplo...
- Ah! Eles são uns idiotas, tão medíocres quanto eu. Preciso de amigos de verdade! Preciso viver de verdade!
- Mas você já vive, filho. Tem seus livros, é um bom trabalhador, tem seus colegas... Recorda-se daqueles que jogam baralho com você aos sábados?
- Lembro, aqueles para os quais todo sábado perco, e que jogam comigo só por causa disso! – Cara de tédio.
- O importante é jogar... Não adianta se desesperar, menino!
- Quer saber de uma coisa?! Vou viver diferente agora. Já joguei muito tempo fora. Vou viver de verdade!
- Você ainda é jovem, ao contrário de mim...
- O primeiro passo é me mudar. Quero viver autonomamente uns tempos, sem café da manhã feito, sem os cuidados da mamãe.
- Você que sabe se quer deixar sua pobre e decrépita mãe aqui sozinha... – A velha estava com uma expressão que fundia tristeza a espanto.
- Não se trata disso! É aproveitar a vida um pouco sem os seus cuidados... Saber o que é ser homem.
- Certo, então... Mas, antes, coma aquela omelete que a mamãe sempre fez pra você, Fofô. – Era o apelido idiota que só uma mãe poderia inventar para Rodolfo.
- É, acho que por isso eu posso esperar...
Comida a omelete e Rodolfo resolvido, como nunca antes – muito embora tenha pensado em desistir inúmeras vezes durante a manhã – seguiu em frente com a ideia de experimentar a independência. Foi para uma casa da mãe que vivia desocupada à espera de alguém que a alugasse, só que nunca aparecia quem quisesse dado a velha cobrar demasiadamente caro. Levou todas as suas roupas no dia seguinte, arranjou um frigobar, sacudiu a poeira dos móveis.
- Cof! Cof! Cof! Ai, como é doce o cheiro da liberdade! – Na verdade era o mofo misturado à poeira.
Chegava a hora de provar algo que fosse de macho, e que nunca ousou sequer cheirar: álcool. Será que as “gostosas” seguiriam mesmo seu rastro depois do primeiro gole gelado da loirinha, como nos comerciais? E só quem viveu sabe o quanto pode ser ridículo o primeiro porre...
Rodolfo queria era se livrar das velhas amizades, então decidiu ir sozinho a algum lugar.
- Nunca bebi em canto algum. Qual seria o melhor pra começar – pensou ele.
A primeira ideia foi de ir a alguma boate, que misturasse música animada, mulher e bebida, coisa que só via em novelas. Lá seria o lugar onde poderia se dar bem. Foi procurar algo que pudesse lhe agradar.
- Folia’s Club! Hunrum! Este parece ser um bom lugar, só pelo nome percebi.
À noite lá estava ele. Procurou a roupa mais descolada que tinha. Em verdade, era uma calça boca de sino, rascada no joelho, uma camisa estampada com girassóis, aberta à altura dos tufos de cabelo do peito, e um sapato de bico, bem lustrado em graxa. Uma combinação e tanto! Talvez fosse descolada noutra geração, não na que ele vivia àquela ocasião. De toda forma, era, propriamente, bem mais descolado que a roupa engomada que usava diariamente, com a velhas camisas passadas sobre as causas encurtadas que deixavam aparentes as méis de ursinho, o cabelo duro de gel, adicionada do essencial assessório do pente no bolso.
Chegou à boate com muita pose. Caminhava de forma boêmia, olhando para os lados, piscando para as primeiras que a olhassem.
- Se olhar, é porque alguma coisa chamou a atenção! – pensava ele. O que chamava a atenção era o estilo estranho.
Finalmente, senta-se ao balcão. É um ambiente totalmente novo. Pessoas jovens, risonhas, dançando e conversando espontaneamente. Bem diferente das “aventuras” do escritório.
- Dê-me uma cerveja, cara! – Sentia-se agora mais confiante.
- Cá está.
- Grato! Bem geladinha do jeito que gosto. – Nessas horas, pose é tudo.
Quando colocou a espumante na boca, veio uma vontade forte de vomitar, uma careta saiu quase que sem querer.
- Que bicho amargo! É... talvez seja somente assim no primeiro gole... Tenho que resistir. Assim eu daqui a pouco me enturmo. – Pensou consigo, precisava se conter e não parecer um peixe fora d’água naquele aquário repleto de moluscos que nunca provara.
De fato, do segundo gole em diante o sabor da coisa se tornou mais agradável. Nem dava pra sentir mais que era amargo. O efeito compensava.
Quando ele já estava meio balançado, as imagens já se misturavam em sua vista, surge uma mulher ao seu lado, bem colorida nas roupas e sorridente. Não esperava ele, mas ela o cumprimentou.
- Primeira vez por aqui? – Num gesto simpático da moça.
- Não, não... Já vim aqui algumas vezes, só que faz tempo já. – Inseguro demais para falar a verdade.
- Deve ser por isso que não o vi antes. Como você se chama?
- Ro... Rodolfo. E você? – Difícil afirmar se gaguejou pela embriaguez ou pela timidez.
- Isolda, mas pode chamar somente de Isa.
- Hum, Isa. O que faz aqui numa sexta dessa? – Pergunta mais idiota não haveria, era óbvia a resposta.
- Ah, procuro escapar um pouco da rotina, conhecer algumas pessoas também. E você?
- O mesmo que você. Sinto-me a vontade aqui. Aceita uma cerveja?
- Não tenho grande costume com bebidas, mas topo.
- Garçom, traga mais uma.
Não custou, a conversa foi se desenrolando, animada pelo álcool. Os dois, que eram tímidos, se soltaram e abriram o jogo sobre o que lhes acometia no momento. De fato, as histórias de ambos eram semelhantes. Dois fracassados, decididos a viver de verdade a partir daquele momento. Ele não entendia como aquela menina linda daquele jeito poderia ser também uma fracassada.
- Olha, sendo bem sincero, gostei de você. – Grande avanço era para Rodolfo ter conseguido dizer isso.
- Também gostei. Você me pareceu estranho, tão estranho, que topei enfrentar conversar com você. Admito que não tenha coragem de chegar nos outros. Talvez um doido me desse mole. – A bebida traz uma sinceridade tão nítida. Rodolfo nem ligou.
- Não entendo... Você é tão bonita!
- Obrigada! Talvez seja somente impressão sua. – Sim, era.
- Deixe-me chegar mais perto. Tenho uma coisa pra lhe contar.
- Chegue.
- Sabe, deu uma vontade tão grande de te beijar, mas não sei se você quer também... – Isso é pergunta que se faça, Rodolfo?!
- Ah! Não sei... – O que significa “sim”.
- Vixe! Desculpa...
- Que isso! Não há problema... – Isa estranhou a falta de atitude do pretendente.
- Então tá. – Era um tapado mesmo.
Um silêncio desconfortável se perpetuou por algum tempo.
- Ah! Sabe que me deu uma vontade de te dizer uma coisa.
- O que?
- Chegue mais aqui.
Quando Rodolfo se aproximou, já sem esperanças e sem ação depois da resposta negativa precedente, é surpreendido com um selinho. A única vez em que tinha recebido um selinho foi forçada, de Joana Cassiano, uma menina grande, valente e temida da escola, que o obrigou, como castigo, a beijá-la, na sétima série. Não foi uma experiência muito explicativa de como beijar. Rodolfo ficou vermelho feito uma acerola madura.
- Vo... você disse que não queria...
- Mudei de ideia. – Com um sorriso sem vergonha.
- Que bom que você mudou de ideia!
- É...
Depois de ela dar espaço, chegava à vez de avançar. Estava meio lesado, feito moleque (que não era), pelo menos fisicamente. Tremia-se todo.
- Preciso fazer mais alguma coisa. – Temia ele em pensamento perder a chance de na primeira noitada se dar ainda melhor.
Pediu mais uma cerveja. Tomou com ela durante alguns minutos a mais, o suficiente para aumentar a coragem.
- Sabe, foi a primeira vez que senti algo estranho assim ao beijar. – Ora, foi a primeira vez que encostou os lábios numa mulher por vontade.
- É mesmo. – Pensava ela: “quero mais, idiota!”.
Então decidiu ele investir mais. Ao beijá-la sentiu uma novidade, uma pontinha de língua. Aquilo era mais novo ainda! Ele pensava que nos beijos de novela não se ia além de um rala-rala de beiços.
- Nossa! O que eu faço com isso?! – Ponderou consigo... O abestado era perdido mesmo!
Não soube ele como lidar. Para a parceira restou a frustração momentânea.
- Será que esse cara está tão bêbado que desaprendeu a beijar?! – Foi a solução que ela achou, refletindo no pedaço de silêncio.
Decidiu Rodolfo, pois, investir uma segunda vez, agora ele que deixasse acontecer naturalmente. Depois de mais alguns tropeços, foram criando gosto pela coisa. Ele empolgou-se e não aceitava mais parar. Estando Isa também necessitada, não ofereceu resistência. Resistência ouve foi corporal para aguentar a sequência de beijos que se seguiu durante quase todo o restante da madruga, intervalado por goles ocasionais de cerveja.
Os dois estavam já quase tombando pela cerveja. Rodolfo sequer conhecia mais Isa. Pensava estar agora beijando sua mãe.
- Mãe, beije-me mais, simbora!
- Tá bom, Henrique! – Esse era o nome de paixão antiga de infância de Isa, sem sucesso.
Os dois cambaleantes e ridículos bêbados, ambos lambuzados de batom escarlate, e roupas coloridas mais pareciam palhaços descabelados, andando sem rumo pelas ruas. Já não sabiam direito quem eram e nem com quem estavam. Importa que estavam juntos, beijando e bebendo. Livres! Andaram mais alguns instantes. Incrivelmente, Rodolfo conseguiu, por sorte, encontrar a casa em agora morava. Levou-a. Adentraram, e por lá tombaram.
Capítulo 01
Rodolfo era um cara simplório, daqueles que criam projetos a partir das expectativas alheias, sendo, portanto, constantemente fadado ao fracasso. Sua vida lhe desagradava, sempre alguém parecia mais feliz; cada dia descobria, ao ver-se no espelho matutinamente, que algo mais estava errado: o jeito como se vestia, andava, falava... enfim, como era. Era um “sempre fracassado”. [Um adjetivo extremamente cruel!]
- Mãe! Meu café já está colocado? – Aos quarenta, ainda dependia da mãe para ter o café preparado bem cedo.
- Quase...
- Algo me preocupa.
- O que?
- Sei que nunca falei sobre isso, ainda mais a esta hora da manhã, mas há algo que me incomodou durante toda a noite... E acho que já não é de agora. Sinto-me um fracassado, a esta idade ainda dependendo da senhora.
- Não se sinta assim. Você não depende de mim.
- É claro que dependo. Sinto-me meio que desprotegido longe de seus cuidados, isso desde que papai morreu [quando adolescente]. Talvez por isso nunca tenha me aventurado a viver independente. Tenho medo de me relacionar com os outros.
- Que nada! Você tem muitos amigos! O Ricardo e o Bolão do trabalho, por exemplo...
- Ah! Eles são uns idiotas, tão medíocres quanto eu. Preciso de amigos de verdade! Preciso viver de verdade!
- Mas você já vive, filho. Tem seus livros, é um bom trabalhador, tem seus colegas... Recorda-se daqueles que jogam baralho com você aos sábados?
- Lembro, aqueles para os quais todo sábado perco, e que jogam comigo só por causa disso! – Cara de tédio.
- O importante é jogar... Não adianta se desesperar, menino!
- Quer saber de uma coisa?! Vou viver diferente agora. Já joguei muito tempo fora. Vou viver de verdade!
- Você ainda é jovem, ao contrário de mim...
- O primeiro passo é me mudar. Quero viver autonomamente uns tempos, sem café da manhã feito, sem os cuidados da mamãe.
- Você que sabe se quer deixar sua pobre e decrépita mãe aqui sozinha... – A velha estava com uma expressão que fundia tristeza a espanto.
- Não se trata disso! É aproveitar a vida um pouco sem os seus cuidados... Saber o que é ser homem.
- Certo, então... Mas, antes, coma aquela omelete que a mamãe sempre fez pra você, Fofô. – Era o apelido idiota que só uma mãe poderia inventar para Rodolfo.
- É, acho que por isso eu posso esperar...
Comida a omelete e Rodolfo resolvido, como nunca antes – muito embora tenha pensado em desistir inúmeras vezes durante a manhã – seguiu em frente com a ideia de experimentar a independência. Foi para uma casa da mãe que vivia desocupada à espera de alguém que a alugasse, só que nunca aparecia quem quisesse dado a velha cobrar demasiadamente caro. Levou todas as suas roupas no dia seguinte, arranjou um frigobar, sacudiu a poeira dos móveis.
- Cof! Cof! Cof! Ai, como é doce o cheiro da liberdade! – Na verdade era o mofo misturado à poeira.
Chegava a hora de provar algo que fosse de macho, e que nunca ousou sequer cheirar: álcool. Será que as “gostosas” seguiriam mesmo seu rastro depois do primeiro gole gelado da loirinha, como nos comerciais? E só quem viveu sabe o quanto pode ser ridículo o primeiro porre...
Rodolfo queria era se livrar das velhas amizades, então decidiu ir sozinho a algum lugar.
- Nunca bebi em canto algum. Qual seria o melhor pra começar – pensou ele.
A primeira ideia foi de ir a alguma boate, que misturasse música animada, mulher e bebida, coisa que só via em novelas. Lá seria o lugar onde poderia se dar bem. Foi procurar algo que pudesse lhe agradar.
- Folia’s Club! Hunrum! Este parece ser um bom lugar, só pelo nome percebi.
À noite lá estava ele. Procurou a roupa mais descolada que tinha. Em verdade, era uma calça boca de sino, rascada no joelho, uma camisa estampada com girassóis, aberta à altura dos tufos de cabelo do peito, e um sapato de bico, bem lustrado em graxa. Uma combinação e tanto! Talvez fosse descolada noutra geração, não na que ele vivia àquela ocasião. De toda forma, era, propriamente, bem mais descolado que a roupa engomada que usava diariamente, com a velhas camisas passadas sobre as causas encurtadas que deixavam aparentes as méis de ursinho, o cabelo duro de gel, adicionada do essencial assessório do pente no bolso.
Chegou à boate com muita pose. Caminhava de forma boêmia, olhando para os lados, piscando para as primeiras que a olhassem.
- Se olhar, é porque alguma coisa chamou a atenção! – pensava ele. O que chamava a atenção era o estilo estranho.
Finalmente, senta-se ao balcão. É um ambiente totalmente novo. Pessoas jovens, risonhas, dançando e conversando espontaneamente. Bem diferente das “aventuras” do escritório.
- Dê-me uma cerveja, cara! – Sentia-se agora mais confiante.
- Cá está.
- Grato! Bem geladinha do jeito que gosto. – Nessas horas, pose é tudo.
Quando colocou a espumante na boca, veio uma vontade forte de vomitar, uma careta saiu quase que sem querer.
- Que bicho amargo! É... talvez seja somente assim no primeiro gole... Tenho que resistir. Assim eu daqui a pouco me enturmo. – Pensou consigo, precisava se conter e não parecer um peixe fora d’água naquele aquário repleto de moluscos que nunca provara.
De fato, do segundo gole em diante o sabor da coisa se tornou mais agradável. Nem dava pra sentir mais que era amargo. O efeito compensava.
Quando ele já estava meio balançado, as imagens já se misturavam em sua vista, surge uma mulher ao seu lado, bem colorida nas roupas e sorridente. Não esperava ele, mas ela o cumprimentou.
- Primeira vez por aqui? – Num gesto simpático da moça.
- Não, não... Já vim aqui algumas vezes, só que faz tempo já. – Inseguro demais para falar a verdade.
- Deve ser por isso que não o vi antes. Como você se chama?
- Ro... Rodolfo. E você? – Difícil afirmar se gaguejou pela embriaguez ou pela timidez.
- Isolda, mas pode chamar somente de Isa.
- Hum, Isa. O que faz aqui numa sexta dessa? – Pergunta mais idiota não haveria, era óbvia a resposta.
- Ah, procuro escapar um pouco da rotina, conhecer algumas pessoas também. E você?
- O mesmo que você. Sinto-me a vontade aqui. Aceita uma cerveja?
- Não tenho grande costume com bebidas, mas topo.
- Garçom, traga mais uma.
Não custou, a conversa foi se desenrolando, animada pelo álcool. Os dois, que eram tímidos, se soltaram e abriram o jogo sobre o que lhes acometia no momento. De fato, as histórias de ambos eram semelhantes. Dois fracassados, decididos a viver de verdade a partir daquele momento. Ele não entendia como aquela menina linda daquele jeito poderia ser também uma fracassada.
- Olha, sendo bem sincero, gostei de você. – Grande avanço era para Rodolfo ter conseguido dizer isso.
- Também gostei. Você me pareceu estranho, tão estranho, que topei enfrentar conversar com você. Admito que não tenha coragem de chegar nos outros. Talvez um doido me desse mole. – A bebida traz uma sinceridade tão nítida. Rodolfo nem ligou.
- Não entendo... Você é tão bonita!
- Obrigada! Talvez seja somente impressão sua. – Sim, era.
- Deixe-me chegar mais perto. Tenho uma coisa pra lhe contar.
- Chegue.
- Sabe, deu uma vontade tão grande de te beijar, mas não sei se você quer também... – Isso é pergunta que se faça, Rodolfo?!
- Ah! Não sei... – O que significa “sim”.
- Vixe! Desculpa...
- Que isso! Não há problema... – Isa estranhou a falta de atitude do pretendente.
- Então tá. – Era um tapado mesmo.
Um silêncio desconfortável se perpetuou por algum tempo.
- Ah! Sabe que me deu uma vontade de te dizer uma coisa.
- O que?
- Chegue mais aqui.
Quando Rodolfo se aproximou, já sem esperanças e sem ação depois da resposta negativa precedente, é surpreendido com um selinho. A única vez em que tinha recebido um selinho foi forçada, de Joana Cassiano, uma menina grande, valente e temida da escola, que o obrigou, como castigo, a beijá-la, na sétima série. Não foi uma experiência muito explicativa de como beijar. Rodolfo ficou vermelho feito uma acerola madura.
- Vo... você disse que não queria...
- Mudei de ideia. – Com um sorriso sem vergonha.
- Que bom que você mudou de ideia!
- É...
Depois de ela dar espaço, chegava à vez de avançar. Estava meio lesado, feito moleque (que não era), pelo menos fisicamente. Tremia-se todo.
- Preciso fazer mais alguma coisa. – Temia ele em pensamento perder a chance de na primeira noitada se dar ainda melhor.
Pediu mais uma cerveja. Tomou com ela durante alguns minutos a mais, o suficiente para aumentar a coragem.
- Sabe, foi a primeira vez que senti algo estranho assim ao beijar. – Ora, foi a primeira vez que encostou os lábios numa mulher por vontade.
- É mesmo. – Pensava ela: “quero mais, idiota!”.
Então decidiu ele investir mais. Ao beijá-la sentiu uma novidade, uma pontinha de língua. Aquilo era mais novo ainda! Ele pensava que nos beijos de novela não se ia além de um rala-rala de beiços.
- Nossa! O que eu faço com isso?! – Ponderou consigo... O abestado era perdido mesmo!
Não soube ele como lidar. Para a parceira restou a frustração momentânea.
- Será que esse cara está tão bêbado que desaprendeu a beijar?! – Foi a solução que ela achou, refletindo no pedaço de silêncio.
Decidiu Rodolfo, pois, investir uma segunda vez, agora ele que deixasse acontecer naturalmente. Depois de mais alguns tropeços, foram criando gosto pela coisa. Ele empolgou-se e não aceitava mais parar. Estando Isa também necessitada, não ofereceu resistência. Resistência ouve foi corporal para aguentar a sequência de beijos que se seguiu durante quase todo o restante da madruga, intervalado por goles ocasionais de cerveja.
Os dois estavam já quase tombando pela cerveja. Rodolfo sequer conhecia mais Isa. Pensava estar agora beijando sua mãe.
- Mãe, beije-me mais, simbora!
- Tá bom, Henrique! – Esse era o nome de paixão antiga de infância de Isa, sem sucesso.
Os dois cambaleantes e ridículos bêbados, ambos lambuzados de batom escarlate, e roupas coloridas mais pareciam palhaços descabelados, andando sem rumo pelas ruas. Já não sabiam direito quem eram e nem com quem estavam. Importa que estavam juntos, beijando e bebendo. Livres! Andaram mais alguns instantes. Incrivelmente, Rodolfo conseguiu, por sorte, encontrar a casa em agora morava. Levou-a. Adentraram, e por lá tombaram.
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