NA SUBIDA DAQUELA SERRA...
Era uma travessia peculiar... Para quem nunca dantes havia subido de pau-de-arara o imponente Planalto da Ibiapada, Ari até que se saiu bem, sendo apenas uma criança de oito anos (meio-medrosa), manteve-se calmo; realmente estava estupefato...
À metade da subida já se via mais nitidamente perante sua vista o horizonte infindo de sertão enverdecido pelas chuvas generosas, todos os maiores açudes que conhecia e alguns que nem sabia que existiam, os povoados vizinhos, os pequenos serrotes, alguns riachos, tudo menor e, ao mesmo tempo, intrinsecamente interligado, cada mínimo veio de estrada ou córrego; doutro lado, as palmeiras de coco babaçu aos montes acariciando-se com as palhas umas nas outras, matas repletas de flores de aromas fortes, marcantes e cores variadas; avistou também a revoada de barulhentos louros verdes de testas amarelo-ouro assustados com o carro... E um vento geladinho e úmido da manhã em névoa... Via água minando pelas gretas das rochas cortadas para o feitio da rodagem, com o musgo junto a ela, formando seu rastro. Tudo novo para o meninote sertanejo, acostumado com uma vegetação mais rala, verde somente em determinada estada do ano.
Ao chegar lá em cima viu um mundo suspenso, a terra dos tabajaras, onde cada traço do chão traz consigo o cheiro do sangue vivo das tribos que fizeram sua vida por ali, até que o homem branco, metido a inteligente, ganancioso e violento, os acuara e os expulsara, exterminando vários. Na cabeça, as empolgantes aulas de História do Prof. Josafá. Havia um tom ancestral no vento lá de cima. Sabia ele que dali descia também muito da água que lá embaixo dava vida ao rio, um rio calmo, chamado Coreaú.
Esses meninos sonhadores notam cada coisa! Seus avós riam de como ele prestava atenção em tudo que para eles pouco significava. Estaria ficando louco?!
Louco ficaria se deixasse de contemplar, lucubrando imaginativo...
Pintura de Edilson Araújo
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